segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

sempre melhor.

ano de tragédia, sim. me fodi legal esse ano. fiquei segurando meu coração na mão, literalmente!
foi uma fase em que eu provei pra mim mesma que se eu passei por ela, passo por qualquer coisa. tragam as mortes, os sustos, os acidentes, os choros e as depressões de domingo que eu tiro de letra e ainda acho tudo muito bom e bonito.
tebe o seu preço, mas valeu a pena; na verdade, tudo o que eu fiz valeu a pena: discuti, zerei prova, rodei a baiana, atingi metas, aprendi a esquecer, aprendi a lembrar. fui forçada a superar, sequei lágrimas alheias, fui dormir com zumbido no ouvido, fiz amizades com quem nunca imaginei ser possível qualquer tipo de contato. descobri que muita coisa me espera lá fora, muitas cores, muitos sabores, muitos aromas. senti saudades, senti vergonha. cheguei atrasada, dei valor quando não dava mais tempo, tive vontade de cravar um salto de sapato nas costas de algumas pessoas, ri horrores em viagens frustradas. vi quem realmente merece estar do meu lado. e renovei minhas esperanças.
deixei em 2007 muita coisa: o pavor daquela noite de sábado em que o mundo desabou sobre mim. inocência. manias. paranóias. to mais do que pronta pra enfrentar mais 365 dias, com a armadura colocada, o coração blindado, mas os braços abertos. lutando pra que EU possa me orgulhar de mim mesma, independente do mundo que gira lá fora. continuando a ter sede no meio da noite, a gostar de sintetizadores, a escrever histórias de mentira, a odiar cachorros e física. continuando a mesma Laura, só que melhor. mais segura, mais inconsequente, mais insatisfeita, mais nostálgica, mas melhor. sempre melhor.

sábado, 15 de dezembro de 2007

"porque eu também sinto medo, e haverá a morte um dia. a vida é apenas uma ponte entre dois nadas e tenho pressa. de repente sentiu-se sufocado enquanto saíam por entre as mesas barulhentas. uma sufocação semelhante à daquelas manhãs de fim de semana em que, involuntário, acordava cedo demais apesar do esforço para permanecer na cama até mais tarde, para que o dia parecesse mais curto e não precisasse bater-se tanto pelo apartamento vazio, sem vontade de fazer coisa alguma a não ser olhar pelas janelas. espiava então pela janela o movimento das ruas, os verdes lá fora, com vontade de sentar-se num banco de praça, comendo maçãs ao sol."

domingo, 2 de dezembro de 2007

Eu vivi muito pouco tempo.
14 anos 9 meses, 25 dias, 7 horas e 40 min, na verdade.
Eu já engoli muito sapo, já tropecei na rua, já fodi meu cabelo, já quase afoguei meu primo, já tive cachorro, já quebrei o dedo, já vomitei no chão da garagem, já pulei em cama de loja de departamento, já fui traída, já fiquei presa em banheiro de restaurante, já quebrei um espelho, já fui picada por uma abelha no pescoço, já xinguei operadora de telemarketing, já dormi no meio de pulp fiction, já respondi o boa noite do jornal nacional, já sangrei dentro de uma sapatilha, já chorei quando um menino de rua veio me pedir dinheiro.
Mas a vida é tão pequena, e tão grande ao mesmo tempo, que eu vivi muito pouco.
Ainda não fui pra Europa, ainda não mergulhei em Fernando de Noronha, ainda não tive hepatite de tanto desrespeitar a bula do meu remédio, ainda não rodei de ano, ainda não bati em nenhuma guria, ainda não tirei licença pra dirigir, ainda não decorei a fórmula de báskara, ainda não aprendi a gostar de salada, ainda não terminei um tubo de pasta de dente antes de comprar outro, ainda não aprendi a jogar need for speed.
E, principalmente, ainda não aprendi a me satisfazer: sabe aquela pessoa chata, que sempre quer mais, e quando consegue, fica infeliz?
Que tem uns 80 anos de vida pela frente e pensa que tudo vai acabar naquele virar de esquina? Ou naquele segundo de depressão profunda, que depois é substituído por uma quase primavera interior? Aquela pessoa lá, que as coisas parecem sempre abaixo do seu nível de exigência; ou muito demoradas, ou muito rápidas, ou muito bonitas, ou muito feias, ou muito difíceis, ou muito fáceis?
Que tem como passatempo – além de sudoku – reclamar, reclamar, reclamar e reclamar. E escrever sobre essas reclamações infelizes?
Soy yo.
Mas eu perdi tanta coisa, tanta coisa, que o que restou de mim é cada vez mais puro, essencial e verdadeiro. O que me leva a pensar, que essa alma rabugenta é minha. Tão minha que é eu. Não tem como mudar, nem como perder, nem como doar.
Talvez a receita da minha essência seja algo como: nostalgia crônica + antecipação + insatisfação. Talvez tenha algumas outras coisinhas que me façam assim tão Laura, mas sempre vai ter a insatisfação... Meus pais já me falaram isso, doutora Daniela também, e agora só o que faltava aconteceu: eu percebi.
Talvez aquele alarme de carro lá fora, ou o calor insuportável, o ritmo de férias, a saudades, o gosto amargo das lembranças, os textinhos do caio Fernando pinicando na minha cabeça – não sejam lá tão grandes como parecem ser. Tão importantes nesse momento como parecem ser. Essas coisas externas, que correm no mundo lá fora, frenéticamente e incansavelmente. Mas sempre fora, nunca fazendo parte de mim por inteiro.
Admitir uma fraqueza gigantesca como essa é amedrontador. Saber que ela é, acima de todas as coisas, seus pesadelos, superações, fantasmas, recaídas. Que ela é sua mais profunda característica – imutável, irremediável, inabandonável.
E no fim de tudo, quando as perdas se transformarem em grandes tsunamis, só seremos eu e minha insatisfação. Ela sempre agarrada em mim, sobrevivente e alheia à todos os meus tropeços e tentativas de separações. Nós duas: velhas, grisalhas, reclamonas, estúpidas, loucas. Eu e a minha insatisfação, que é tão minha que é eu.