quinta-feira, 15 de maio de 2008

felicidade-de-um-dia

foto: rio das pedras, rio de janeiro, 2007
ultimamente eu tenho andado tão feliz. não exatamente por um motivo específico, nem por vários juntos, é um sentimento que não se mede.
sonhei de novo essa madrugada, com aquela paisagem perto do litoral baiano que eu deixei pra trás chorando. não havia harmonia, só barulho; o barulho do meu próprio medo me corroendo por dentro - medo de voltar e perceber que minha vida tinha virado a esquina - e uma onda no quebra-mar lá longe, talvez. e pedro bala, dos capitães da areia, afiando a faca com um olhar de quem ensina um novato, ou dá as boas vindas a um estrangeiro. e desse sonho colorido de laranja, vermelho e rosa, eu acordei sorrindo. às sete da manhã de uma quinta-feira eu levantei da minha cama arrumadinha (porque eu pareço defunto quando durmo) e abri a cortina, me sentindo uma personagem vital de um exagerado escritor barroco.
e assim, vazia e completa, terminei um livro. era carl barât arranhando cant stand me now na orelha esquerda, o jornal nacional na direita e nas mãos carregava Keats me esperando pra ser descoberto. fechei Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago), e descobri que amo os loucos! alternando entre um vazio cheio de falhas e a plenitude, me lembrei da teoria "a vida consiste basicamente em ter lido os livros certos...". deu vontade de chorar. era tanta utopia que fazia o mundo real parecer tão... real (onde já se viu amanhecer completamente cego e retornar às mais antigas raízes humanas? razão = visão or what?). era felicidade e melancolia se misturando e formando uma mistura saturada.
e agora a pouco, me descobri fearless. coragem travestida de esperança, é verdade. assim, indolor, pá pum, percebo a grandeza da minha confusão. não reconheço mais as afirmações: corro minha lapiseira pela linha e desenho um ponto de interrogação. e por alguma causa nada lógica, me lembro das contas de perímetro da sexta série: quadrado = lado + lado + lado + lado. é a geometria explicando meu humor (ironicamente hoje ela destruiu ele. progressão aritmética sucks)! sempre fui desse tipinho; faz um bico tremendo e fala que a vida é só amargura, mas é só fechar os olhos que eu sorrio e vôo e sonho com pedro bala e a bahia de todos os santos. john lennon me entenderia; living is easy with the eyes closed...
e feliz, porquê? depois de tanta drama vindo em comprimidos, feliz, sim. de longe, contra o sol, com dificuldade pra finalmente entender a reviravoltavaivemtroca&muda. os pólos de uma rotina, que por puro capricho de São Tomé (o que só acreditava vendo. meu camarada.) se unem e resultam numa pessoa assim,
que nem eu.
feliz.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

equação ambulante

"chegou a hora de assumir, por exemplo, o meu peculiar jeito de ser. mal humorada com sons, principalmente os relacionados a gente que não sabe comer (comida) ou beijar sem estalar a língua. fresca com comida, de preferência as que esperam você cheias de perdigotos em self-service gordurosos ou, pior, são trazidas pelo garçom que insiste em botar o dedão dentro do prato. maldosa & sensível, feliz de andar cantando e depressiva de nunca achar que uma janela é só uma janela. eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito. que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. e espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo a tudo e a todos. eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. mas dá realmente pra ser assim? eu sou essa pessoa. que não faz questão de ver quem a minha mente castradora me manda amar e que simpatiza, ainda que por alguma doença, com quem me judia aos pouquinhos. que quer matar a velhinha que demora horas para descer as escadas e segundos depois carrega a porra da velhinha no colo e chora sensibilizada pelas fragilidades do mundo. eu só queria que tudo fosse belo, cheirasse bem e tivesse o brilho de um fim de tarde com bebezinhos sorridentes. mas o mundo, as pessoas, as validades, tudo expira, tudo cai, os mitos viram defeituosos, as fortalezas de vidro vagabundo, tudo perde o encanto. e para mim, aceitar tudo isso ainda é comer o feijão com pressa e entupir uma narina. não entra direito. e eu volto a focar o lixo ainda que tenha um mar ao fundo. eu volto a focar o mijo, ainda que tenha a brisa e a maresia em todos os lugares. eu volto a focar o crime, a criança descalça, os olhos adultos de ódio em corpinhos de cinco anos, ainda que tenha a adriane galisteu correndo ao meu lado. eu volto a focar o vazio e essa imensa tristeza sem motivo dentro do meu peito, ainda que o cristo me mande um abraço aberto não muito longe dali. eu sou essa pessoa. que deixa doer porque esse é o único esporte que se pode fazer deitada e que dorme demais como uma resposta blasé a esse mundo que pensa mandar em mim o tempo todo. com medo das paredes fecharem e meus amigos não me amarem mais. com medo de sentir tanto, tanto, a vida, e vomitar em cima do mundo. com medo de quase tudo o que se mexe e muito mais do que não se mexe. mas com uma curiosidade que cura e emudece qualquer pânico. chegar do outro lado sempre ganha de permanecer e se afogar, ainda que eu engula um pouco de água para pedir socorro em prestações e jamais precisar do definitivo."