ultimamente eu tenho andado tão feliz. não exatamente por um motivo específico, nem por vários juntos, é um sentimento que não se mede.
sonhei de novo essa madrugada, com aquela paisagem perto do litoral baiano que eu deixei pra trás chorando. não havia harmonia, só barulho; o barulho do meu próprio medo me corroendo por dentro - medo de voltar e perceber que minha vida tinha virado a esquina - e uma onda no quebra-mar lá longe, talvez. e pedro bala, dos capitães da areia, afiando a faca com um olhar de quem ensina um novato, ou dá as boas vindas a um estrangeiro. e desse sonho colorido de laranja, vermelho e rosa, eu acordei sorrindo. às sete da manhã de uma quinta-feira eu levantei da minha cama arrumadinha (porque eu pareço defunto quando durmo) e abri a cortina, me sentindo uma personagem vital de um exagerado escritor barroco.
e assim, vazia e completa, terminei um livro. era carl barât arranhando cant stand me now na orelha esquerda, o jornal nacional na direita e nas mãos carregava Keats me esperando pra ser descoberto. fechei Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago), e descobri que amo os loucos! alternando entre um vazio cheio de falhas e a plenitude, me lembrei da teoria "a vida consiste basicamente em ter lido os livros certos...". deu vontade de chorar. era tanta utopia que fazia o mundo real parecer tão... real (onde já se viu amanhecer completamente cego e retornar às mais antigas raízes humanas? razão = visão or what?). era felicidade e melancolia se misturando e formando uma mistura saturada.
e agora a pouco, me descobri fearless. coragem travestida de esperança, é verdade. assim, indolor, pá pum, percebo a grandeza da minha confusão. não reconheço mais as afirmações: corro minha lapiseira pela linha e desenho um ponto de interrogação. e por alguma causa nada lógica, me lembro das contas de perímetro da sexta série: quadrado = lado + lado + lado + lado. é a geometria explicando meu humor (ironicamente hoje ela destruiu ele. progressão aritmética sucks)! sempre fui desse tipinho; faz um bico tremendo e fala que a vida é só amargura, mas é só fechar os olhos que eu sorrio e vôo e sonho com pedro bala e a bahia de todos os santos. john lennon me entenderia; living is easy with the eyes closed...
e feliz, porquê? depois de tanta drama vindo em comprimidos, feliz, sim. de longe, contra o sol, com dificuldade pra finalmente entender a reviravoltavaivemtroca&muda. os pólos de uma rotina, que por puro capricho de São Tomé (o que só acreditava vendo. meu camarada.) se unem e resultam numa pessoa assim,
que nem eu.
feliz.