quinta-feira, 24 de abril de 2008

uma manhã macabra

ontem o pai do meu colega entrou em coma.
eram três e vinte da tarde quando ele morreu e a escola nos avisou. foi a primeira vez que eu vi minha turma inteira em silêncio, olhando pro nada e tentando entender como o vitor estaria se sentindo agora.
alguns choraram porque não conseguiam imaginar o que fariam sem o seu pai, teve aqueles que se lavaram porque talvez sentiram a dor do colega vindo lá do hospital. outros não conseguiam, porque era muito estranho chorar por uma pessoa desconhecida.
o vitor não era desconhecido.
ele tinha a cabeça raspada porque o pai tava fazendo quimioterapia. e ele sempre me perguntava sobre como andava a vida, com os olhos azuis arregalados, esperando a resposta.
e hoje eu vi ele e o pai dele, os dois de terno preto, o vitor a uma distância segura, pra não machucar mais ainda. pareciam não acreditar que tava acontecendo de verdade. o termo não seria frieza, sim perplexidade. o padre cantando, as tias de óculos escuros, o irmão dele gritando: era tudo tão vazio e espaçoso mesmo numa montoeira de gente da escola segurando rosas brancas e chorando a perturbação dos parentes.
o vitor me chamou de lau e me abraçou como havia feito com no mínimo umas quinze pessoas antes de mim. mas foi chocante, horrível. o arrepio que eu senti, a cara molhada virada pro sol, o barulho dos coveiros e do cimento. "até nunca mais", eu pensei quando vi a gaveta fechada. e tentei não me visualizar de véu preto batendo no mármore pedindo pro meu pai voltar.
é péssimo ter que abraçar um amigo apenas nessas circunstâncias, mas a presença de cada um de nós naquele enterro foi fundamental; acho que conseguimos preencher um pouco do buraco que se abriu dentro dele.
espero que essa morte não faça do vitor uma pessoa amarga e desgostosa, como várias vezes já vi em filmes: a vida continua mesmo incompleta. o que importa é a não-ilusão, porque a manhã nasce, diria frida kahlo. chego até a desejar que as pessoas nunca morram, mas é final da nossa estrada, uma meia-volta até o nascimento e um ponto de partida para o perdão.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

open, heavy, LOVING

eu to feliz, mesmo sentindo tanta dor.
dor de desprendimento, esquecimento, e, ironicamente, dor de cura. não é aquela que não deixa dormir, ou que algumas pessoas desistem de tentar superar: é dor saudável que me impulsiona.
é confortável, como aquela de furar a cartilagem da orelha, de sustentar 50 kg em cima de uma sapatilha de ponta ou como a de uma dor de cabeça enganosa. é dor bonita, que traz lágrima e sorriso ao mesmo tempo, aperto e liberdade do coração.
eu dou risada dela, às vezes. e sei que ela também ri de mim.
andamos de mãos dadas (na outra levo o destino) e a sinto palpável perto de mim. tão perto quanto sinto a alegria e a saudade.
é uma dor sádica, isso tenho certeza. e que dor não é?
um pouco saudosista, porque esse frio e essas blusas de lã me doem bastante. não só pra acordar cedo de manhã, mas também porque me lembra... alguma coisa.
nada certo, nada nítido; o espelho de machado de assis. uma alma externa que influencia uma alma interna e vice versa. as duas debatendo e duelando constantemente, tentando se sobrepôr.
dor porque eu não me lembro mais.
porque eu não encontro o motivo no meio de tanta bagunça e tanta mudança. mas no escuro da minha incompreenção ela se desenvolve.
cresce e floresce dentro de mim e precisa de espaço, o que eu não tenho.
mas é dor.
e é boa.

terça-feira, 15 de abril de 2008

vida fodona


vida fodona porque voltou o frio, e eu até encontro gelo na minha janela de manhã. e também porque tem bolo quentinho aqui na minha casa, com cobertura de leite condensado e côco. vida fodona porque eu tenho festa todo final de semana, and that's a lovely way to burn! sem falar no meu celular novo, no meu aniversário que se aproxima (leia-se jóias de quinze anos) e talvez no fato de eu estar aprendendo aos pouquinhos a não me arrepender das coisas. tudo vale a pena quando a alma não é pequena, mesmo quando não tem mais espaço pra nada.

quarta-feira, 9 de abril de 2008


gosto do que me tira o fôlego, venero o improvável, almejo o quase impossível. meu coração é livre, mesmo amando tanto. tenho um ritmo que me complica. uma vontade que não passa. uma alma que nunca dorme. quer um desafio? experimente gostar de mim. levo o desassossego dentro da bolsa e um par de asas escondido dentro do casaco. às vezes, quando é tarde da noite, eu viajo, e – sem saber – busco respostas que não encontro aqui. ontem eu perdi um sonho, e acordei chorando, logo eu que adoro sorrir... mas não tem nada não, bonito mesmo é essa coisa da vida: um dia, quando menos se espera, a gente se supera e chega mais perto de ser quem – na verdade – a gente é.