sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

deveria ser mais fácil...

eu queria que a vida fosse mais fácil, sabe.
que a gente não precisasse se preocupar com telefonemas anônimos porque o mundo seria tão fácil que não existiram assassinos em série pra ligar anonimamente.
que viagens pra praia fossem coisas que te proporcionassem felicidades instantâneas, não medos. porque ir pra praia e aproveitar seria tão fácil que não me deixaria impaciente.
mudar de escola seria uma coisa muito fácil, também. estaria todo mundo te esperando lá, com os braços abertos, sorriso na cara, querendo que você se sinta bem.
ficar em casa o dia inteiro seria - além de fácil - gratificante. regar as plantas, andar de esteira, assistir um filme de três horas de duração, achatar a bunda na cadeira do computador, comer bolo quentinho com cobertura de côco escorrendo pelos lados. mas não é assim tão fácil e gratificante quanto parece: plantas, esteiras, filmes longos, computadores e coberturas de côco são muito complicadas quando sua vida inteira é complicada.
organizar os armários deveria ser fácil: mas eu tenho [muito] medo de tirar pra fora tudo aquilo. aqueles bichinhos de luz mortos, de sentir aquele cheiro de madeira mdf e incenso que eu sempre sentia quando as coisas ainda eram fáceis.
não empurrar os medos com a barriga, não fugir das realidades, não usar o "sono" como desculpa básica pra uma melancolia sem explicação. deveria ser fácil. ou melhor, pra vida ser realmente fácil de se viver, essas coisas não deveriam nem existir.
só deveriam existir marshmellows, e calças de moletom antigas, e vôos no horário certo, e bolachas caseiras, e ataques de riso, e tantas outras coisas fáceis...
mas e depois eu paro, penso em apagar todo o texto e digo: e qual seria a graça? onde entraria o medinho e o frio na barriga antes de fazer coisas difíceis? e as paranóias, os pesadelos, os fantasmas escondidos dentro de armários, as mudanças, as melancolias... onde se coloca tudo isso numa vida em que nada te aflige, nada te desespera; tudo é uma linda ilusão em que todas as ruas são verdes e limpas, todas as pessoas são puras, todas os dias são felizes...
eu só queria que fosse menos difícil: menos aflitivo, menos desesperador, menos paranóico, menos assustador.
só mais fácil.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

minhas férias em um texto.

comecei o ano com o pé direito, com vento na cara e rindo de tudo. chorei de cima de um farol. vi o mar ficar prateado, depois dourado e depois tão transparente como eu nunca tinha visto antes. descobri células de melanina no meu corpo que nem imaginava que existiam, contornei uma ilha de barco em plena tempestade e pensei que não iria sair viva. tomei sorvete de doce de leite num porto, invejei casas e barcos e contas no banco monstruosas, aprendi a sempre pedir pizza sem cebola. andei de bicicleta num campo de golfe, perdi um jogo de sinuca pra um gurizinho de nove anos e comi uma barrinha de twix sentada no chão da varanda. contei a mentira mais cara de pau da minha vida, cantei guns n roses na beira do píer, dei chilique com uma vendedora. e, depois de dez dias num paraíso mal aproveitado, encontrei meus pais, peguei as malas e parti pra bahia - a melhor semana da minha vida. ia dormir quando o sol acordava e acordava quando o sol tava indo dormir: tive uma overdose de farra que já na terça feira ainda não passou. conheci um vejetariano pernanbucano, um carioca que gostava de confundir as pessoas, uma modelo de ribeirão preto, um pedro de brasília, um guilherme auto destrutivo que derrubou um enfeite de parede em cima de mim, um casal de irmãos meio japoneses que eram muito sem noção e até fiz um cantor sertanejo milionário se apaixonar por mim. ouvi muita trova de um mineiro cujo apelido era pica pau, fiz amizade com um gay chamado vitor que usava crocs, com a cópia da cleo pires e também com sua irmã que tinha o queixo rasgado e dormia no meio das festas. ensinei argentinos a dançarem forró - eu não estava em sã consciência - e conversei em espanglês com eles. comi peixe todas as noites, tomei um banho de capirinha, berrei uma música dos backstreet boys dentro de um quarto de hotel enquanto secava o cabelo. corri uma são silvestre debaixo de chuva e quase peguei no sono num coqueiral. vi o sol nascer por trás da cidade de salvador, depois de uma madrugada exaustivamente divertida. fui "o que faltava fazer" pra um tal de deco que fedia a giovanna baby. tomei margueritas escondida, ri de um cover do ricky martin e perdi uma havaiana na praia. estava rodeada de pessoas - que, por acaso, não conseguiam nem se comunicar direito - mas parecia que estava sozinha. me arrumava todas as noites pra depois voltar pra casa tropeçando e ir dormir toda suja, com a televisão ligada e o meu irmão caçula roncando do meu lado. descobri que minha prima é muito paranóica e ao mesmo tempo muito parecida comigo. subornei um dj, tomei café em copo de plástico as 11 da noite, aprendi truques de truco e fui chamada de chata no mínimo umas cinco vezes. quase caí na piscina num momento de empolgação, levei um susto com uma iguana que apareceu no meio do meu caminho e comi tanto gelo até anestesiar minha boca inteira. dei colo pra um bêbado que insistia em me chamar de lú. tropeçei nas pedras do pelourinho, amarrei fitinha na grade de nossa senhora do bonfim, tive calafrio quando entrei numa igreja, comi um sorvete de menta maior do que a minha cabeça. fui confundida com uma européia, jantei pizza hut debaixo das cobertas. fiquei sete horas dentro de um avião vagabundo, apertado e desconfortável, fazendo palavras cruzadas compulsivamente e dormindo sentada. e, no dia 19, fiz tanta força pra não chorar que doeu minha cabeça. me despedi de todo mundo forçando um sorriso e dizendo um boa viagem meio gaguejado. troquei msn, fiz prometer que me mandariam as fotos e depois de vinte dias de tempo congelado e de "making some noise", tá na hora de voltar pra casa. volto cansada, de ressaca infinita, unhas quebradas, cabelo ruim, arrependimentos martelando na minha cabeça. eu de pijama desde de manhã, numa casa vazia, esperando a semana passar devagarzinho, penso: "eu trocaria a eternidade por essa noite".

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

tchau, goodbye, adiós, ciao, tschüss, au revoir!

saio de casa com sentimento de quem vai mudar a vida, carregando na mala além de muitos biquinis, muita vontade de fazer o que der na telha. tranco a porta respiro fundo fecho os olhos, é dois mil e oito, vamos laura, vamos mudar as coisas, a rotina, cada dia um novo dia, cada segundo uma chance pra ser diferente. passei a meia noite do dia 31 abraçando gente que eu não conhecia, tomando resto de champanhe da taça dos outros. sentei num box imundo de banheiro, dei uma de louca e começei a falar sozinha, segurando com força a maçaneta pra que a música não derrubasse. entrei em 2008 com um salto de 13 centímetros de altura que foi trocado por uma havaiana depois, entrei em 2008 me fazendo de feliz e entendida, dançando forró com o meu vô e desejando do fundo do meu coraçãozinho maltratado que eu estivesse em qualquer outro lugar. na beira da praia, acendendo vela, jogando palmeira no mar, na bahia de todos os santos, vivendo uma história pra depois poder lembrar. fui atingida por um turbilhão de promessas falsas, lentilhas, encorajamentos, viradas de olhos, tropeções. acabo de mergulhar ser tomar ar, acabo de acabar um ano, acabo de perceber que não sou pessoa de ficar. e agora eu fecho o cadeado da minha mala, prometendo pra mim mesma que farei o que nunca fiz, que farei o que eu quiser, viverei dias únicos, sei lá, qualquer coisa que valha a pena. agora é a hora, de ME fazer feliz, de me completar, de me encontrar, de me descobrir. e nada de adiamento, porque eu já passei muito tempo adiando coisas que não podem ser passadas pra trás. chega de olhar a vida passar pela janela! me despeço de 2007, da minha cidade, dos meus old habits com um sorrisão estampado na cara, adrenalina pulsando, o mundo nas minhas mãos.
p.s. texto-impulso: sem correção, sem revisão, sem modificações.