quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

falling

me perdi numa infinidade de olhos nessas férias, que acho que o jeito certo de expressar seus momentos é através deles... um numero inimaginavel de bolitas verdes me encarando, gente que eu não sabia que existia, mas que me senti uma guria de sorte depois que descobri. um par de olhões verdes me levou a sério e raspou o cabelo porque eu mandei... e depois teve de se ajoelhar pra recolher todos os pedaços dele mesmo que eu espalhei pela grama, no final do show do Marcelo D2. esses primeiros olhos me deixaram morrendo de dó; sobrancelhas curvadas implorando pra mim um favor... mas eu fui sã. fui inteligente. às vezes a areia é mesmo muito pesada pra um caminhãozinho. e, o segundo veio numa noite de muita Absolut e pouco auto-controle, que terminou tão mal quanto poderia terminar; uma tarde de ressaca embalada por uma rede na varanda, com a memória perturbadora dos olhos azuis olhando de cima pros meus, procurando algum resto de pureza. o terceiro, quarto, quinto e não sei mais quantos me atormentaram durante duas madrugadas de alucinação, em que o meu nome era a última coisa que importava: de Laura, me passei por Lauren, Maria Laura, Luana, Laís, e mais tarde por Paula e mais tarde ainda fui uma tal de Marília que dançava ao som de uma bateria de escola de samba, que sorria pra guitarristas em cima do palco, que fazia showzinhos particulares e que, principalmente, guardou dentro da cabeça a sensação que cada um daqueles olhos tiveram. tive sonhos e pesadelos depois, mas me arrepio inteira lembrando da intensidade inflamável de todos eles; pares de bombas relógio tique-taqueando ali na frente do meu nariz. lembro ainda do sol subindo detrás do mar gelado do rio grande sul e o cheiro desconhecido da gola de um moletom emprestado... a cena linda linda linda refletida na areia molhada, o murinho de pedra balançando com a quantidade de bundas e de silencio sobre ele... o medo de uma mensagem de voz deixada no meu celular que tinha ficado em casa (é sempre desagradável dar a notícia do "cai fora"), o medo duplicado de ser esquecida, e o medo triplicado de que aquele momento alguma hora acabasse. tava frio, mas por algum motivo eu sabia que aquela manhã seria lembrada não pelo frio, mas pelo calor que os diversos olhos tinham quando olhavam pra mim. depois, num frio ainda mais intenso, os olhos quase de índio pedindo pra casar comigo; tatuagem no peito, fama de trovador, portfolio na ford models e carreira em expansão apocaliptica. mas sim, fui eu e meu jeito de guria-de-outra-cidade-que-não-conhece-ninguém que fez o piazão me fuzilar através do gelo seco. e ainda, pra completar meu final de férias, ganhei um presente de despedida dolorido e maravilhoso: nunca mais - ou pelo menos nao num futuro proximo - iria rever os olhos que mais me comoveram. uma mistura que levava um sorriso lindo, modos de cavalheiro e a certeza de que eu iria ir embora pensando nessa tal mistura. assim como eu tenho certeza de que nenhum de todos os olhos jamais esqueceriam os meus próprios. foi um abraço apertado demais, os ossos das costelas se estralando, uma frase sem sentido nenhum, na ponta dos pés. quis enfiar um cano de revólver na minha garganta. quis agarrar aquelas bochechas. não recebi mais nenhum abraço sincero. mais ninguém quebrou minhas costelas e invadiu minha cabeça. e, na volta pra casa, num ônibus sujo que se sacolejava por essas estradas secundárias do sul, dormi e sonhei com as cores bonitas dessas minhas férias... o cinza da chuva constante, o laranja do sol da manhã batendo nos ombros, o azul marinho do mar furioso, o vermelho de uma camiseta e das bochechas, o prateado do choro, da lua e do brinco, o rosa se transformando em amarelo às seis horas da manhã. e olha que comecei, em janeiro, desacreditando completamente na minha capacidade de me divertir em qualquer lugar - pensava que precisava estar naquele lugar pra poder viver. comecei querendo dar um passo mais largo do que as pernas, mas me surpreendi, porque não cai. não houve tombo. é, chorei uma noite de medo e de solidão, de saudades e de impotência, de vontade de arrumar as malas fugir viajar mandar tudo se foder... chorei por não estar no lugar que em que eu queria estar. e no final, era exatamente lá que eu queria estar.