terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ás vezes vem um sentimento sem nome, que como todo sentimento é, todo mundo sente, mas de formas diferentes. como todo sentimento, é impossível de explica-lo; só sei que é doce. Nos faz sorrir meio de lado, sair dançando, descobrir um amor atrasado, esfregar o rosto nas mãos e desejar um pouco mais de força - não uma carga mais leve. Sentimento que mistura altas doses de Blink, riffs pegajosos de uma música hardcore e uma mecha de cabelo enrolada no dedo - depois um olhar de canto, a bola de vôlei que vem voando diretamente pro meu nariz. É a distração que esse sentimento causa. O calor que surge de dentro no meio de uma sala com ar condicionado ligado. Sentimento que por mais doce que se faça na língua, depois de um tempo torna-se amargo e depois doce de novo e o gosto nunca se define, por mais que certa manhã eu tenha certeza que seja de maçã-do-amor, depois côco, amendoim, gloss de baunilha, pasta de dente, caramelho que gruda no dente... Sentimento que renasce no verão junto com as inconseqüencias que eu me submeto pra ter aquela sensação nas veias de quando se toma penicilina de intravenosa no hospital. Sentimento ao qual se dá o nome de Sentimento Sem Nome.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

maybe all i need is love

Eu acredito nessa coisa de amor verdadeiro e tal. Só me recuso a pensar nele com aquela perfeição que a maioria prega. Isso não existe. O amor é cheio de falhas porque quem sente somos nós, os humanos. Os seres mais defeituosos.
Muita gente abre mão dele porque tem medo de quebrar a cara, e talvez porque não entendam que talvez o desencanto seja fácil porque o encanto não foi verdadeiro. Quando a macumba é boa não há reza que desembaraçe o fio.
E eu, fico longe porque nunca quebraram minha redoma. Nunca perfuraram meu colete a prova de balas. Nunca explodiram minha bolha. Nunca ousaram pôr um pé sequer pra fora de seus limites e adentrar o meu tão desconhecido.
Não digo que o amor é uma mentira, porque não o conheço. Não digo que as pessoas o interpretam mal porque pra mim ele é só um desses monstros que se escondem debaixo da cama, ou dois diagramas amarrados um ao outro. Só tenho segurança o suficiente pra afirmar que não o temo: cansei de preparar a mesa e depois ter que retirá-la, abatida, fracassada, com um gosto na boca que por mais que eu escovasse os dentes jamais iria sair.
Desamarrei o fio da macumba de muita gente, também. Principalmente ao longo desses últimos meses - tempo recorde pra uma pessoa tão assustadora como eu imaginava ser. Desamarrei o fio, dei tapa na cara, bati a porta e depois fui chorar num canto, virei o rosto e afastei a mão, dei muitas pistas pra que não se aproximasse... Cansei do amor. Desisti de esperá-lo. Coloquei-o num pedestal e o esqueci lá. Esqueci de dar comida, de dar água, de conversar de quando em quando e assim acho que deixei a luzinha apagar.
Agora tenho uma dívida a pagar - e todas à Deus, aquele pilantra. Três pais-nossos pelos palavrões, duas ave marias pelos pedaços de coração espalhados pelo corredor de um ônibus e um terço inteirinho rezado na segunda terça-feira de todo mês. Duas xícaras de desespero, uma colher-de-chá de desenfreio e dois litros e meio de desejo. Fazer um doce pro diabo talvez garantisse um lugar à alma...
Mas na verdade só aumentou meu ceticismo. E o acolhi. Assim como acolhi o pessimismo e a nostalgia como desculpa pra dor-sem-nome e tantas outras balelas de gente depressiva em final de tarde de domingo chuvoso.
Mas no final de um filme romântico, de um livro de Pablo Neruda, de um conto de Caio, às lágrimas, sempre me pego pensando novamento no amor. E não só acreditando piamente nele como também achando todos os apaixonados uma multidão de gente iludida pela coisa mais linda e que mais vale a pena no universo.

(... all you need is love, love, love is all you need. there's nothing you can know that isn't known. nothing you can see that isn't shown. now here you can be that isn't where you're meant to be, it's easy... all you need is love, all you need is love, love, love is all you need.)