sábado, 27 de dezembro de 2008

meu presente

Eu tentei acabar com a minha dor nesse Natal, descontando em gente que eu gosto muito, em copos de vidro e portas de carro. Exatamente o tipo de dor que se sente no momento que um doce muito bom acaba de terminar, ou que um déjà-vu de algum segundo precioso foi embora, ou que a sua mão acabou de ser solta pela mão de alguém. Um tipo tremendamente assustador de dor; que me fez abaixar a cabeça pros meus próprios pés no meio de uma multidão histérica e sentir vontade de chorar até secar por dentro.
Saudades de 2008, quem sabe? Do Caminho Não Escolhido, que ficou lá pra trás, na encruzilhada? Ou apenas a dor de estar sozinha, mesmo rodeada de gente?
Eu não precisava de uma tequila grátis, eu não precisava de um olhar torto ao passar meu número pra um cara desconhecido, e muito menos de uma batidinha no ombro falsamente simpática. Eu precisava de alguém pra me ajudar.
E esse ano novo eu resolvi que vou passar completamente sozinha.
Que não vou esperar por amigo nenhum vir me socorrer, nem que algum estranho consiga preencher meus vazios... Eu, meu vestido amarelo, o mar e 2009. Eu, minhas esperanças, sonhos e medos.
Mas o meu presente pra humanidade é que eu nunca, jamais, vou fazer qualquer pessoa se sentir solitária, desamparada, ou vazia.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ponto de partida

Ai, como vc me enxerga mal! - diria com um riso tranquilo no fundo. Sou faceta e isso também sou eu, cada pedaço não me é já me sendo inteira, e ser sonsa de si faz parte do próprio jogo. Porque?, não sabia, mas fora sempre assim. A poesia das pequenas coisas se alargando e tomando o dia inteiro, a beleza cobrindo as coisas, o pensamento circular, lágrimas de apatia e paixão, como explicá-la? Inexplicável, se quase cabia numa música mas transcendia, ultrapassava, poetizava e empobrecia. Às vezes precisava se sujar, e isso era surpreendentemente ruim. Mas precisava, pra se purificar de novo. E mesmo na sujeira encontrava sua essência e sua brancura em ser terrivelmente humana e concreta. Pode ser precipitado, pode ser precípicio, eu sei que você não vai me acreditar: mas estou começando a ser justa comigo mesma, não me condeno, não me odeio, coexisto ainda, indiferente ao âmago, mas que seja esta a primeira forma de recomeçar, impessoalizar a dor. A dualidade da minha alma e da minha pele pedem: pensar e omitir, beber e se abster, chorar e desonrar, e talvez por isso nunca me completasse, e dessa forma, fosse completa. =)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Otimismo

é tão estranho falar que o ano novo está chegando, quando ainda falta um mês pro velho terminar... feliz de mais, entende? não porque tá quase tudo no final, mas porque os novos planos já estão em ação! o que passou eu faria de novo e de novo e de novo e não me arrependeria nunca, e o que eu não fiz foi porque não era pra fazer simplesmente. acredito que as brigas e os abraços tiveram seu valor, mesmo que brigas nem aconteceram tanto - foram anuladas pelas amizades novas. e quando aconteceram, terminaram todas com um abraço pacificador. e ahh... foi tanta risada, tanto sorriso e tanta gargalhada que se eu fosse resumir mais ainda o ano de 2008, resumiria num sonoro HAHAHA! é tão bom abanar adeus pra um ano, sabendo que mesmo sem ter feito tudo o que era pra ter feito, ele correu maravilhosamente bem; e quando você se sente renovada é ainda melhor. espero mais entrega, rock inconseqüente, espontaneidade, barrigada na água, olhos fechados e cabeça aberta... afinal o que nos inibe? eu sei, não basta querer tem que correr atrás, correr como meu pai correu pra fazer de mim alguém com caráter, alguém disposto a errar e a nunca persistir no mesmo erro. desejo sol e mar em janeiro um amor no final de fevereiro e se possível que seja amor verdadeiro. em abril, aceito vários presentes, ou um parabéns de coração. junho e julho que venham as escolhas, e que me invadam e me sufoquem, que são elas que eu aguardo sentada... setembro logo chega, trazendo a sensação de que com ele vem novamente um ano novo, mesmo que sendo avistado de longe e meio embaçado. e rezo para que em 2009 esqueçam-se da minha vida e parem de procuram meus defeitoseu ja to bem grandinha pra escolher novos rumos e acolher as suas devidas consequencias. que o tempo não corra mais tão rápido, que o horário de verão continue por mais um bom tempo, que eu passe nas recuperações, que minha saúde permaneça inabalável e meus anticorpos fortes pra lutar... porque eu vou permanecer no campo de batalha, o quanto precisar permanecer. e se minha felicidade depender apenas de mim, tenho certeza que ela vai rapidamente se instalar, como a chegada da primavera ou um novo hábito na rotina - assim, quase imperceptível. 2009 ta me esperando, ali na esquina de dezembro, e eu corro, preciso chegar logo! NESSE ANO ALGUMA COISA VAI ACONTECER, eu to louca pra saber o que é.

(sem revisões)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Good morning, summertime!



Tenho uma relação de amor e ódio com as manhãs. Normalmente as odeio porque precisam ser preenchidas por longas horas enclausuradas numa sala de aula, ou porque iniciam com um longo bocejo e o frio sulista gelando os pés quentinhos. Mas não quero falar do frio que faz aqui às sete da manhã. Hoje quero falar sobre o calor, sobre o verão e sobre um rio de janeiro que vai bem além do cristo. Existe um outro lado da moeda - mas mesmo assim ainda a mesma. É lá onde estão as manhãs tão lindas e tão cheias de cheiros bons e sensações, que no verão, são preenchidas rapidamente; com café da manhã ao meio dia e o direito de ficar enrolada no lençól que nem múmia por um bom tempo até o calor ficar insuportável. Mais além, foi nesse verão que aprendi a ver as manhãs com aquele quê de melancolia, esperança e lentes da câmera de um filme; o caminho familiar feito todo dia da casa alugada até o restaurante do hotel, para o café, passando pelos arbustos cheios de hibiscos cor-de-rosa e abelhas. Percorrendo devagar a orla do canal - a água do mar canalizada para dentro do condomínio - e absorvendo o cheiro de combustível diesel dos veleiros. As mansões dos milionários reluzindo as pedras de São Tomé, os mármores, os vidros, os enormes iates ancorados a um passo do jardim e as crianças loucas que eu sempre via correndo por eles. Eram naquelas manhãs compriiiiiidas que íamos os lugares mais lindos, percorrendo sem medo as rotas; seguindo em linha reta pela água ainda cinza do mar, bem na saída do canal, logo vinha a Ilha da Gipóia, e, bem onde o marinheiro ancorava, era possível ver um quase-continente chamado Ilha Grande. Era desafiador fazer esse passeio; o vento batia forte na cara e sempre se tinha a impressão de que o mar era infinitamente maior do que o barco podia suportar. Alcançávamos a Praia de Araçatiba depois de algum tempo de sacolejo nas ondas, e tinha aquelas árvores enormes e de folhas largas fazendo sombra na areia. Em Angra tudo é esquecido, e não tinha uma alma naquele lugar, nada além do barulho do motor, braços e pernas batendo na água e as vozes altas das minhas primas. Ainda pela manhã, com o sol a pino esquentando as costas ensopadas de Australian Gold, fazíamos a volta na ponta oeste da ilha, até que era alcançada a Praia dos Meros: alto-mar, água azul petróleo bem funda, cheia de água viva e peixinhos que faziam cócegas nas pernas. Depois vinha, numa ordem crescente de beleza e esquecimento, a do Aventureiro, do Sul e do Leste, Parnaioca, e, Lopes Mendes: uma das coisas mais lindas que eu já vi na vida; enorme, quase interminável, com aqueles bancos de areia cobertos por amendoeiras, uma profundidade de quase quatro metros, mas o fundo ainda visível. Todo mundo enchia os olhos de lágrimas e depois, de marcha ré, adentrávamos de novo no alto-mar, fazendo a volta. Era o caminho de casa, por isso sabíamos quando estava chegando no final, que normalmente vinha antes da uma da tarde. A essa hora, no final da manhã, o mar parecia feito de ouro, uma coisa tão impressionante, tão linda, e tinha um farol, Farol dos Castelhanos, daqueles que Hemingway descreveria num de seus livros. Listrado de vermelho e branco, cercado de pedras inalcançáveis. Depois, passava correndo Freguesia de Santana, o Saco de Céu e mais dezenas de prainhas que eu não me lembro mais o nome; todas exclusivíssimas àquela hora, longe das escunas turísticas e dos cariocas invasivos. E todas com suas igrejinhas brancas, pescadores morando em barracos e comendo os mariscos trazidos pela ressaca da maré, e talvez aquelas histórias meio bobinhas sobre piratas, escravos que morreram de escorbuto nas cavernas, e mais horrores de blablabla's que faziam os olhos do meu irmão brilhar.
Uma hora e trinta minutos acabava minha manhã. Acabava a parte mais deliciosa do dia e começava a parte insuportavelmente entediante e quente; o dia transcorria calmo, abafado - com aqueles ventos-que-não-fazem-vento que vêm da África, e não havia um minuto antes da noite em que eu não pensava na próxima manhã. Hoje, nos finais de semana de janela aberta e cheiro de férias, as manhãs são doloridas... Se não é a ressaca física de sexta ou de sábado, é a moral, que mil vezes pior, transforma as manhãs parecidas com as de Angra em um inferno na terra, mesmo que o vento sopre sem fazer vento, ou que o mar pareça estar perto do Alto Uruguai. Minha relação com as manhãs é dividida por uma linha estreita; de um lado, o verão, as Havaianas coloridas, camarão e a Ilha Grande. Do outro, o inverno, a escola, os cachecóis e as blusas de lã, o chiado do vento minuano nas frestas da janela. Normalmente consigo conciliar esses dois extremos e ficar balançando no meio da linha; o corpo pendendo nem para um lado nem para o outro, como se alguma mão me segurasse ali em cima, sempre na dúvida, mas sempre insistindo em dizer GOOD MORNING, SUMMERTIME!, mesmo quando a temperatura é negativa!





(Good morning starshine, the earth says hello! You twinkle above us we twinkle below...)