e justamente aí está o grande mal das pessoas. o fato de serem como são e ninguém poder fazer nada. só elas podem fazer algo por si mesmas, mas não enxergam, não querem olhar para dentro de si, têm medo. e se talvez enxergam, fingem que não e fecham os olhos. e passam a vida inteira com eles fechados esperando que alguém as salve, fingindo. somos como somos, não temos solução, unilaterais e orgulhosos, cuja menção de autoconhecimento nos faz ter medo de descobrimos o monstro que criamos. e eu me preocupo, vejo as pessoas tropeçando pela vida e tenho vontade de dar um daqueles chacoalhões e salvá-las. mas salvá-las de que? de que descubram que não há outra descoberta a fazer a não ser que nossos instrumentos e manipulações são precários - não existe o que fazer nessa vida além de ceder. cedemos para a morte, porque o que vivemos agora é apenas uma ponte. cedemos para a mediocridade, e permitimos que nossos filhos crescam destinados a um futuro que foi se estreitando (conforme vimos que não seriam capazes de serem nem milionários, nem gênios da computação, nem ídolos do futebol), cedemos, simplesmente, inteiros, e quase sempre sem impulso vital: esperando não dar certo, irredutíveis e imodificaveis a qualquer tipo de esforço. quero salvar as pessoas. quero agarrar ombros e sacudir até que consigam rotacionar seus próprios olhos para seu próprio interior. e podemos nos recusar a ver, podemos esperar o quanto quiseremos: sacudir a cabeça até o fim dessa maldita vida, sem necessidade de rever as certezas ou mover-se de um cantinho quente. mas a partir do momento que se vê, se sente, se escuta, se conversa, se pergunta, se conversa com o reflexo no espelho, você está perdido: as coisas não voltarão a ser as mesmas, nem você será o mesmo. talvez aceitará a estranheza de desconhecer quem é essa nova pessoa, ou talvez não conseguirá lidar com a dor de perder uma ingenuidade tão parasita que conseguia enganar seu próprio hospedeiro. mas pra todos há uma certa altura do campeonato em que desaba, entende. não demora muito tempo, não, pelo menos praqueles que têm a habilidade de entender suas confusões e se situar em bagunças emocionais... há sempre um momento, há sempre uma hora em que achamos tudo muito fácil para ser real. em que soamos tão falsos que começamos a procurar algo mais interior e mais verdadeiro. quando reconhecemos que a vida passou a ser nada mais que aquela batida de música eletrônica que nunca cessa e nunca muda e nos hipnotiza, em que a única coisa que fazemos é ignorar quem realmente está no controle dela.
foto: tenoch, julio e luisa, do filme y tu mamá también. "la vida es como la espuma, por eso hay que darse como el mar."