numa dessas noitas de tédio em que todo o universo parece conspirar contra nós, eu e minha Dupla De Loucuras Em Cidades Estranhas, resolvemos quebrar - quase - todos os códigos de conduta. e que fim nos levou? o início da última noite de nossa temporada na praia marcada por duas cicatrizes (assim como o rosto daquele alguém que me abrigou da chuva); diferentes, é claro, cada uma se cortou de um jeito... mas quem falou que não dói igual? eu levei um pito por olhar pro mar como se ele fosse a minha redenção, "Ô Japa, olha pra mim. Chega de nhénhénhé. Última noite, quero ver empolgação!". não, obrigada. nem a muvuca frenética de argentinos passando ao nosso redor, nem a garganta inflamada do outro que, coitado, enrolava o pescoço num casaco de lã. nem o mar, que ali pertinho, abria os braços pra mim como se fosse a minha redenção. definitivamente, o universo estava certo... é extremamente perigoso contrariá-lo e o certo era ter ficado em casa. ele havia me entregado os limões, mas naquele momento, eu não tava com vontade de fazer limonada. e eles não adiantam nada, se me falta o sal e a tequila.
é claro que o fim que nos levou não foi um final feliz...
já basta viver para correr todos os riscos do mundo, mas a solidão é a minha pior inimiga, e eu acabei me tornando uma pessoa realmente perigosa naquela noite. não foi o mar que me salvou. não foram as mensagens digitadas com força. e, principalmente, não foi aquele par de braços compridos. não há redenção onde há erro. eu pedi perdão pro mundo por ser eu mesma deitada na cama, sozinha, em silêncio mortal, depois de tropeçar nas palavras e nos copos, ainda com o zumbido de mash-ups insanos na cabeça. pedi perdão porque esse é o único jeito... a minha sinceridade comigo mesmo assustaria qualquer um que talvez o fato de eu ter permitido um recém-conhecido olhar tão fundo nos meus olhos fez com que ele visse essa imperdoável mania de me sujar e depois me purificar. tanto sei que ele viu, que em cinco minutos ele não foi mais capaz de me olhar nos olhos novamente. tão cruel comigo mesma que o mar não seria capaz de lavar metade das minhas auto-mutilações.
não haveria salvação pra minha tristeza.
mas também não haveria, jamais, nenhum motivo para ela sequer existir.
eu estava cercada de gente que me queria bem, da esperança de Janeiro e até daqueles elétrons emanando da felicidade dos outros que fazia meu braço arrepiar inteirinho.
mas não... eu estava com um pé (talvez o corpo inteiro) numa outra dimenção que só exisitia nas minhas possibilidades loucas. os Precious Times que eu jamais teria ali, naquele lugar, com aquelas pessoas. minha realidade paralela tinha tudo o que eu precisava; Salvador, trio elétrico, Orloff de graça, o capitão Pedro Bala em carne e osso e redes debaixo de um coqueiro. pra quê cargas dágua eu ia insistir naquele lugar?
e assim, minha última noite na praia foi trágica.
foi cômica, também, mas eu tava rindo das piadas dos outros, não das minhas próprias. e ao som de Tomorrow Can Wait eu me rendi pro meu lado corrosivo e perigosíssimo se não usado nas doses certas... e não foi.
pedi perdão, mas continuo infestada de uma sujeira insuportável.