quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Dálias, amarílis, lírios, margaridas, orquídeas, jasmins...

Me despeço de 2009 sem pensar em nada, sem nenhuma amargura, nenhuma vaga de saudade, rejeição, rancor ou melancolia. Abro os braços para o que desponta no horizonte curvo que esconde o planalto do Rio Grande - 2010. Me preparo e observo o momento como se segurasse uma delicada bolha de cristal entre as mãos. Maravilhada. Consciente do fugaz. É uma felicidade doída. O Cruzeiro do Sul está no céu, perfeito, também a Ursa Maior, Capricórnio ligando algumas estrelas aqui e ali, as Três Marias e a Dalva mais brilhante de todas. Céu claro de fins de dezembro, somado ao vento quente, me deram a coragem e a sinceridade suficientes para aceitar a nova década mais plena do que aceitei 2009. A saúde está perfeita, a visão nem tanto... mas prossigo. A delicada engrenagem se move dia após dia. Acordo, rezo, café passado, rotina. E a cada dia desses, a acho mais deliciosa, a tal rotina. Ando impressionada com a passagem do tempo e com a vida em si, ando abraçando meus avós, ando fazendo carinho nos cachorros de rua, sem pensar muito no agora, no depois, no antes. Sem pensar muito em nada, na verdade. Minha cabeça parece um daqueles quadros abstratos, em que o que a primeira vista parece uma casa com montanhas ao fundo logo depois torna-se nitidamente o rosto retorcido de alegria de uma pessoa. Nada se define, e os contornos confusos dos desejos para o próximo ano se organizam desorganizadamente. Não sei o que quero exatamente, mas em momento nenhum me permitira desacreditar em minhas esperanças. A vida grita, e a luta continua. Acordamos, rezamos, café passado, dor de todo dia, dor nos olhos, de quem vê pouco e quer ver muito mais. Não desejo a cura, nesta década que vem vindo, só desejo a força para suportar a dor. E foco. E alguém para passar o tempo, ver as coisas e pessoas e a vida girando rápido demais. E talvez equilíbrio para saber dosar e consumir homeopaticamente minhas ambições. Isso é tudo, e ao mesmo tempo, é muito pouco... Não tenho certeza de nada, e isso nunca foi tão bom, confortável, lindo, e encorajador. Só sei que tudo brota; dálias, amarílis, lírios, margaridas, orquídeas, jasmins... A esperança brota. A paz também. O amor nasce nos terrenos mais inusitados, como uma erva daninha. Quero me colorir de flores! Quero principalmente luz. Alfazema. Alecrim. Lavanda. Chá de maçã turca durante a novela pra esquecer a falta de todas as coisas. Notas altas. Festas intermináveis. O nascer do sol da minha janela, por trás do vale. O mar. O silêncio. Quero paciência, fé, criatividade! Quero o que todos os seres humanos querem, mas não peço felicidade, diferente da maioria - sou humilde o suficiente. Acho que o caminho até a felicidade é mais divertido e à confere um status de prêmio. Eu, e todos nós, somos um pontinho, uma fração, um milésimo, um grão de pó... E pode parecer ambicioso para um pontinho mas de repente gostaria de ajudar a transformar este mundo numa coisa melhor: que em 2010 eu consiga deixar uma marca. E, vocês sabem... Tudo é ilusão, tudo é círculo vicioso, tudo é só estrada que corre e corre, e todas as estradas vão para o mesmo lugar. Que as paisagens em volta desta estrada sejam belas, então. Cachoeiras de água gelada pra varrer do corpo qualquer negatividade. Redes de algodão cru pra embalar a sesta. Chimarrão bem quente nas manhãs de geada. Um homem de boa pegada e bom espírito para conduzir o jogo. E no verão, mar azul turquesa. Estradas belas, afinal, já que o final é o mesmo para todos nós, e a vida é uma ponte entre dois nadas. Não esperarei telefonemas, cartas, emails, palavras, não esperarei pela "tal coisa", pois é preciso ser feliz agora, já, imediatamente. 2010 não nos esperará também. E na manhã de Iemanjá, talvez jogar rosas brancas na sétima onda, depois partir sozinha. Sem fazer planos.

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